Para finalizar (pelo menos por enquanto) os
posts sobre saúde mental, hoje conto com a ajuda de um amigo querido, o Dr.
Adriano Pires, que fez a gentileza de relatar um caso clínico do qual teve conhecimento,
bem como algumas colocações suas sobre o tema.
“E se eu acelerar mais o carro e bater no muro? O
desespero irá acabar. Já não consigo mais viver mesmo, não vai fazer
diferença.”
Apesar destes pensamentos e tantos outros assombrarem X
por semanas, e de sua formação médica, ele(a) não foi capaz de entender o que
acontecia com ele(a).
X sempre teve muitos amigos e, na verdade, faz amizades
muito facilmente, e estava constantemente cercado(a) deles. X gostava de sair,
ir a festas, teatros, museus. Mesmo sozinho(a). Adorava caminhar ao sol e à
beira-mar, sabia apreciar um sorvete e um bom prato.
Apesar das dificuldades financeiras por que passou, X foi
aprovado(a) para uma bolsa em uma faculdade de Medicina de renome, durante a
qual foi representante de turma e membro ativo dos órgãos de representação
acadêmicos.
X era relativamente bem conhecido(a) por grande parte dos
colegas de faculdade, e viam-lhe como uma pessoa dedicada e de valor, sendo
convidado(a) a ser orador(a) de turma. Talvez fosse o que as pessoas chamassem de
“feliz”.
Não parecia haver motivo para a tristeza intensa
que sentia. Mas bastava estar sozinho(a) consigo mesmo(a) e aquele desconforto
aparecia.
X sempre foi muito crítico(a) consigo e com a sociedade. X
não admitia cometer erros e tolerava os de outrem. Logo, sempre estava
questionando seu papel no mundo, na sociedade, o porquê de estarmos vivos, e
sempre chegava à conclusão de que não fazia muito sentido em estar vivo(a).
X via-se como um quebra cabeças em que faltam peças,
perdidas havia muito tempo e ele(a) não sabia onde, mas que faziam muita falta.
Vivia sempre em busca dessas peças. E isso lhe causava desconforto, sensação de
estar sempre no lugar errado, sensação de ausência de estar- estava ali mas, ao
mesmo tempo, não estava. Não achava seu lugar no mundo. E o desconforto, a
sensação de ausência de parte de si, eram constantes. Afinal, pode-se fugir de
tudo, menos de si próprio.
Desde cedo, também, os pensamentos sobre morte lhe
acompanhavam. “E se esse ônibus me atropelasse? Será que a dor passaria?”; “E
se caísse ‘acidentalmente no trilho do metrô, talvez o sofrimento acabasse'”.
Ainda assim, X era capaz de manter seu trabalho e seus
relacionamentos de maneira que muitos achariam saudável. A impressão era de
viver uma vida dupla: por um lado, ativo(a), inteligente e amigável; por outro,
desconfortável com o simples fato de estar vivo(a).
Desde muito cedo em sua vida, a auto-imagem de X foi de
absoluto menosprezo. Achava-se incapaz de aprender o que quer que fosse -
apesar de ser um(a) dos melhores alunos(as) da escola; acreditava ser
fisicamente repulsivo(a) e que jamais teria qualquer chance de sucesso em sua
vida, não importasse o que fizesse.
Ao contrário do que se poderia pensar, tais fatos não têm
relação direta com sua criação; os pais de X lhe ofereceram, dentro de suas
escassas possibilidades, o melhor de que dispunham. Em suma, X acreditava piamente
ser um ser completamente desprezível e descartável.
E tudo transcorreu dessa maneira por talvez vinte anos,
sem que X se desse conta de qualquer coisa. Mas o desconforto consigo aumentava,
chegando ao ponto de desejar morrer por qualquer causa, mas sem jamais ter
passado por sua mente a idéia de que ele(a) mesmo(a) deveria ou poderia
fazê-lo.
X iniciou uma especialização médica, algo que desejava
profundamente e pelo qual se esforçou muito. Ótimo salário, ótimos professores,
colegas formidáveis. Mas a sensação de ausência de sentido lhe acompanhava. X
passou a não fazer sentido para si mesmo(a). Desistiu da especialização após
três semanas. Sua família, amigos e professores simplesmente não entenderam. Na
verdade, nem mesmo X entendeu.
A sensação de ausência de sentido havia aumentado a ponto
de X sentir que havia um vazio em seu corpo, como se sua alma houvesse sido
retirada e sobrasse apenas um jarro vazio. Não dormia e, quando conseguia
alguns momentos de descanso, tinha pesadelos; não se alimentava e não via
qualquer prazer nas atividades de que antes gostava, como ler, clinicar ou
cozinhar.
X arranjava desculpas para permanecer em casa sempre que
possível e evitava ao máximo o contato com pessoas. Ainda assim, X trabalhava e
ia a festas quando absolutamente necessário, não demonstrando qualquer sinal de
tamanha tristeza. Sorria, conversava, contava histórias...agia normalmente. Mas
apenas por fora. Ao voltar a si mesmo(a), os questionamentos e os tormentos
retornavam.
Poucos dias depois de desistir de sua especialização, ao
chegar em casa à noite, X se deparou com seu(sua) cônjuge. Aquele dia havia
sido especialmente difícil, pois os pensamentos sobre como acabar com sua
própria vida já haviam surgido, sem que de fato se desse conta.
X lembra de ter sentido tontura durante todo aquele dia.
De tão perdido(a) que estava, tudo o que conseguiu dizer a ele(a) foi:”Quero me
separar.” Não havia qualquer motivo aparente para tal; afinal, haviam se casado
há poucos meses. X jamais demonstrara qualquer sinal de insatisfação conjugal.
A sensação de ausência de sentido de existir de X era
tamanha que apenas duas coisas passavam por sua cabeça: 1) preciso achar
sentido em estar vivo(a) ou vou acabar com tudo isso; 2) Não quero trazer a
melhor pessoa que conheci em minha vida para este meu inferno pessoal. Prefiro
dar-lhe a oportunidade de ser feliz com outro(a), para que não sofra comigo.
Ao retornar após uma festa de casamento (o pior programa
possível para um deprimido!), X deparou-se com uma casa vazia. Seu(sua)
cônjuge havia retirado seus pertences da casa. Ao notar isso, X se despedaçou.
Caiu de joelhos, no escuro, em choro convulsivo. “Meu Deus, alguma coisa está
errada, e não sei o que é. Mas o Senhor já me abandonou. Todos me abandonaram.
Não há mais o que fazer neste mundo.” Estava decidido(a), não passaria daquela
noite. Sabia o que e como faria.
X ligou para seu(sua) cônjuge e disse-lhe que ele(a) era
a melhor pessoa do mundo, que sentia por tê-lo(a) feito sofrer e que não se
preocupasse, pois iria resolver tudo naquela noite e não seria mais um peso no
mundo. Num lampejo de lucidez, X ligou a um grande amigo e disse algo
semelhante mas, no final, pediu-lhe socorro. E ele atendeu, foi à casa de X. Conversaram
noite adentro, ele levou X para sua casa, deu-lhe de comer (havia quase dois dias
que X não se alimentava) e lhe acalmou. Mas os pensamentos sobre deixar de
viver não cessaram.
No dia seguinte, X retornou ao trabalho. Atendia em uma
empresa localizada em grande rodovia. Tráfego em alta velocidade. E, mais uma
vez, aquela vontade, aquela ausência absoluta de sentido:”Vamos lá! Acelere;
110, 120 150, 160km/h. Basta um muro, um poste. E pronto, o sofrimento acaba”. X
conseguiu resistir, diariamente, por uma semana.
X pediu a seu(sua) cônjuge para que retornasse para casa.
Sentia sua falta. Ele(a) aceitou, acreditando que a contra-gosto. Mas percebeu que
algo estava errado. E X percebeu que o(a) estava fazendo sofrer, o que
aumentava ainda mais sua sensação de culpa e de inutilidade, e logo, a
necessidade de morrer. Na manhã seguinte, o mesmo pensamento lhe assombrava. X prometeu
a si mesmo(a) que iria dar fim à sua vida ao retornar do trabalho. Estava
decidido(a).
No meio da manhã de atendimentos - onde X se comportou
normalmente, sendo gentil com os pacientes e equipe, apesar de todo o
planejamento que tinha- recebeu uma mensagem de seu(sua) cônjuge dizendo haver
agendado um Psiquiatra para ele(a) para o dia seguinte. X diz que não se
esquecerá: era dia 13 de abril, às 17:30.
X pensei: "Esta é minha última tentativa.” Até o
momento, X havia perdido 8kg em 3 semanas, pois mal se alimentava, e não dormia
mais de 3 horas por noite. A sensação de ansiedade e de inadequação eram
constantes. Ainda assim, não havia qualquer suspeita de sua parte, de seu(sua)
cônjuge ou familiares de que estava doente.
A consulta na tarde seguinte foi primorosa. X não escondeu
nenhum detalhe. Não havia por quê. Na faculdade, X aprendeu que o diagnóstico,
dito a uma pessoa, pode ajudá-la ou derrubá-la Neste caso, ajudou-lhe.
Escutar:”Você está com depressão grave.” libertou-lhe.
Então, X não era um(a) desajustado(a), um ser desprezível e descartável; apenas
estava doente. Iria tomar remédios e melhorar! X relata que chorou, de alegria
e tristeza.
Seria ele(a) um(a) fraco(a), por isso estava assim? Deveria
aceitar-se deprimido(a) ou deveria lutar contra isso? Mas como lutar, se não tinha
forças para viver? Como contar às pessoas que estava com depressão? Ficaria
viciado(a) em alguma das medicações? Será que algum dia iria melhorar? Outro
drama começava.
X Iniciou as medicações exatamente conforme a prescrição.
Apesar de saber como manipulá-las, permitiu-se ser paciente e não médico(a) de si
mesmo(a), e obedecer às orientações.
Devido ao risco de suicídio, X teve que ficar em
vigilância constante. As opções eram a casa de seus pais ou internação em ala
psiquiátrica. Optaram, X, seu(sua) cônjuge e seu Psiquiatra, em tentar a casa
de seus pais. Tinha medo de piorar, em um hospital psiquiátrico. Afinal, “não
sou louco”- mais um preconceito do que uma certeza.
Nesse ponto, faz-se necessário um
esclarecimento do Dr. Adriano Pires: Medicações antidepressivas necessitam de
um período para iniciar seus efeitos, chamado de latência. Isto dura em torno
de 15 dias, período em que pode até mesmo haver piora dos sintomas.
Voltando a X: Relata que os primeiros 12 dias de medicação foram absolutamente
desesperadores, na falta de outra melhor para descrever o que se passou. Costuma
dizer que, se existe inferno, ele(a) o conheceu.
Sua cabeça tornou-se uma tempestade terrível e contínua.
Era como se houvesse um rádio fora de estação, zunindo, a cada segundo de cada
dia, no volume mais alto, em seus ouvidos. E nada abafava esse ruído. X perdeu
completamente a noção de ser ele(a) mesmo(a).
Seus pensamentos eram tormentosos e desajustados, não
faziam qualquer sentido, bagunçados. Não sentia fome. Não sentia tristeza,
alegria, raiva, sono: simplesmente não sentia. Nem a pior discussão ou
xingamento lhe alterava: estava anestesiado(a), dormente, incapaz de sentir o
que quer que fosse.
Passava os dias e noites sentado(a) na varanda da casa, olhando o nada e tentando calar o barulho ensurdecedor dentro de sua cabeça. Rezava, pedindo a Deus para acabar com aquilo ou consigo, mas para que tudo simplesmente acabasse. Sua alma doía. A dor era insuportável e lhe acompanhava em todos os momentos, pois não havia como fugir de si mesmo(a).
Por dias, não se banhou ou manteve hábitos simples de
higiene. “Para quê? Vou ter de levantar daqui, caminhar, tirar a roupa, abrir o
chuveiro, me ensaboar, depois enxugar...Para quê? Por quê? Não...”. Pelo mesmo
motivo, não se alimentava. Pensar em ter que mastigar a comida lhe parecia um
esforço titânico. Era melhor ficar ali, quieto(a), e esperar até morrer.
Some-se a isso a fase de adaptação de X às medicações.
Utilizava dois antidepressivos, uma medicação para dormir e diminuir a
ansiedade (mais uma colocação do Dr. Adriano Pires: sim, um depressivo pode se
tornar ansioso à medida que se vê incapaz de lidar com situações simples, como
escovar os dentes) e outra para diminuir as chances de suicídio.
As doses foram sendo aumentadas conforme o passar dos
dias. Os efeitos adversos eram realmente muito ruins. Entre os médicos, corre a
lenda de que uma doença, quando se manifesta em um médico, é muito pior. A isso
chamam de “Efeito CRM positivo”. X acredita que não deve haver verdade maior.
Todas as medicações mostraram seus efeitos colaterais e adversos. Náuseas,
diarreia, tremores, tonturas, fraqueza, cansaço muscular. Alguns, como o
desarranjo intestinal e a náusea, passaram após alguns dias. Outros, mantém-se.
Certo dia, nesse período, ao acordar, X não conseguia se
mover. A sensação beirava o indescritível, mas X faria seu melhor. Era como se
ele(a) não estivesse lá. Ele(a) era apenas um jarro, um recipiente vazio em
cima de sua cama; um amontoado de carne e ossos sem vida, como numa vitrine
de açougue.
Olhava para o teto e tentava juntar forças para mover-se,
mas que força havia? X Lembra de ter pensado: “Então é isso. Isto é depressão.
Cheguei ao fundo de mim mesmo, e não sei se haverá volta.”. Relembrava cada
episódio triste de sua vida e se perguntava onde havia se perdido. Quando foi
mesmo que deixei de existir- se é que um dia existi de verdade?
Nisso, o telefone tocou e era seu(sua) cônjuge, dizendo
que iria lhe buscar para levar X a um centro religioso. Era difícil falar ao
telefone. Apenas lhe pediu ajuda. Quando chegou, ajudou-lhe a chegar ao banheiro
para X banhar-se e trocar-se. Havia permanecido na mesma posição, no escuro,
por mais de oito horas e talvez ficasse ali por muitas outras, caso ele(a) não
houvesse lhe ajudado.
Grato foi o dia em que descobriu que, se colocasse música
bem alto nos fones de ouvido e se tentasse, com muita força, prestar atenção
apenas nisso, o ruído diminuía. Desde então, a música acompanha-lhe em grande
parte de seus dias e noites. Tentou ler, em vão. Tentou livros de colorir; não
passou dos primeiros traços. Tudo era insuportavelmente difícil, pesado,
estafante e inútil. “Para quê, afinal? Já estou morto(a) por dentro.”.
Após 10 dias de medicação, X começou a ouvir uma voz
dentro de si, ao rezar, que lhe ajudava e aconselhava. Essa voz - consciência,
anjo, guardião, guia, mentor - lhe acompanha até hoje e lhe deu os melhores
conselhos possíveis.
No exato 13º dia de medicação, à noite, X pegou-se,
repentinamente, quieto(a), quase confortável, sentado(a) à mesa da cozinha,
escutando música. Foi estranho. Havia silêncio. O ruído passara, ou diminuíra
muito. Deus, que sensação boa! Que alívio! Sentiu-se “alegre”. Nessa noite, X teve
medo de dormir. Para o depressivo, cada dia é um dia, e todos são diferentes.
Pode-se estar muito bem em um e, no outro, acordar como se o mundo houvesse
deitado em cinzas. Esse medo lhe acompanha até hoje.
X passou aproximadamente um mês e meio na casa de seus
pais, que foram extremamente cuidadosos e receptivos, assim como seu querido
irmão, que vive com eles. Seu(sua) cônjuge lhe visitava ocasionalmente, o que lhe
fazia muito bem.
Mais uma colocação importante do Dr.
Adriano Pires: o deprimido não gosta de si próprio, e acha que é inútil no
mundo. Mostrar que se gosta dele, que ele é uma pessoa digna de carinho (e não
de pena!) é extremamente importante. É comum, também, que o doente queira
companhia, mas que esteja incapaz de pedir por isso. Lembre-se: é uma situação
de dormência completa. Se comer é muito esforço, pedir companhia, então, é
impossível. Ofereça-o companhia. Fique ao seu lado, lendo um livro ou escutando
música. Às vezes, quem sofre de depressão só quer um corpo próximo ao deles,
como que para os lembrar de que estão vivos.
Importante dizer que se o depressivo quiser
conversar, eles o farão. Não fique “puxando assunto” ou dizendo que a pessoa
está “muito quieta”. Acredite, ela sabe. E também se incomoda com isso. E ouvir
isso causa ainda mais incômodo e culpa.
Mas se há algo que mina qualquer esperança
de melhora ou, ao menos, de não piora, são dizer-lhe frases como: "É, você
nunca conseguiu lidar bem com pressão, coitado”; “Levante dessa cama!”; “Vá
tomar um banho, penteie esse cabelo, credo!”; “Vamos sair, você precisa tirar
sua mente disso!”(por melhor que seja a intenção). Mas jamais, repito, jamais,
diga que o deprimido é um fraco, que não sabe lidar com seus problemas, que só
quer atenção ou que isso é frescura. Como em tudo na vida, se não se sente
hábil a compreender um fenômeno, apenas cale-se. Comentários como esses podem, de fato, causar piora tão grande a ponto
de a pessoa encontrar o suicídio como única saída.
X relata que receber mensagens de amigos lhe convidando
para sair, por mais que não soubessem de seu problema, lhe dava certo alívio e mostrava
que ele(a) deveria ter alguma importância. Era como se seu valor no mundo
estivesse à prova: se ninguém sente minha falta, sou dispensável e não mereço
viver. Ao contrário do que se poderia pensar, o deprimido não quer atenção por
pena. Acredite, isso é perceptível. Queremos saber que as pessoas estão
realmente interessadas em nossas vidas pois, naquele momento, nós próprios não
estamos.
Hoje, dois meses após o diagnóstico inicial, X voltou a
morar com seu(sua) cônjuge. Mantém as medicações diariamente, com aumento das
doses e algumas trocas de medicações. Alguns efeitos adversos mantém-se, mas
mais toleráveis. X realiza sessões de psicoterapia cerca de duas vezes por
semana e, está certo(a) de que não há tratamento de depressão sem psicoterapia,
não importa sua gravidade.
Finalmente, sobre o caso clínico, seguem as
últimas colocações do Dr. Alexandre Pires, que concorda com a importância do
apoio psicoterápico: as medicações são necessárias, pois o cérebro em depressão
sente falta de alguns neurotransmissores e, por isso, não funciona direito. As
medicações diminuem a ansiedade e dão força para a pessoa pensar e encontrar
uma saída para seu(s) problema(s).
Contudo, o(s) problema(s) e causas de todo
o processo só serão conhecidos com o direcionamento de alguém apto a escutar e
traduzir o que se diz, ou de induzir questionamentos construtivos. É como se
levássemos um carro sem combustível (neurotransmissores) mas com problemas de
motor (a psiquê, do que trata o Psicólogo) um ótimo mecânico. Trocar um motor
não o fará funcionar, do mesmo mesmo modo, apenas encher o tanque não resolve o
problema do motor.
Contudo, psicoterapia só funciona se feita
de maneira sincera e honesta, o que não quer dizer que deva contar a seu
Psicólogo todos seus medos, traumas, raivas, angústias e “segredos sórdidos”
logo na primeira sessão. Mas permita-se abrir-se. Lembre-se de que o que é dito
ali é confidencial e que aquela pessoa não está lá para julgá-lo, por mais que
você acredite que seus pensamentos são dignos de um filme de Hitchcok.
Talvez seja necessário procurar outros
Psiquiatras ou Psicólogos. Sem problemas! Mas cuidado, principalmente ao trocar
este último: é quando estamos nos aproximando do problema que ele se torna
maior e a primeira reação é fugir. Claro, avalie bem sua situação e, se
acreditar haver problemas de fato, não hesite: há ótimos profissionais por aí.
Aos amigos e familiares: entendam e
respeitam a pessoa com depressão. Lembre-se que 1 em cada 10 jovens brasileiros
pensa em suicídio (apesar da depressão não escolher idade). Acredite, ele(a)
sabe que não está bem. Não o(a) force a realizar atividades; não monte um
cronograma de horário e não chame pessoas para visitá-lo(a) sem antes
consultá-lo(a). Existem flutuações bruscas, de um dia para o outro, e isso pode
ser confuso. Há bons sites sobre como lidar com pessoas com depressão e podem
ajudar em muito. Na dúvida, leve a pessoa a um Psiquiatra.
Mais importante de tudo: Transtorno de
Humor Depressivo (o "mediquês" para depressão) é uma doença, assim
como diabetes, pressão alta ou uma pneumonia. Não tenha medo ou vergonha de
procurar alguém para conversar sobre seus problemas. Peça ajuda se pensamentos
de inadequação ou morte começarem a lhe perseguir. E, sobretudo, existe cura!
Espero ter contribuído um pouco para
desmistificar essa mal infelizmente tão comum mas que, esperançosamente, tem
cura. Coloco-me à disposição para ajudar com dúvidas, dentro de meus
conhecimento.
Depois do caso clínico e das explicações do Dr. Adriano Pires, agora
segue um texto que é uma
compilação de uma pesquisa feita em sites que tratam do assunto (links ao
final), mas feito por uma pessoa leiga.
O termo Depressão pode significar um
sintoma que faz parte
de inúmeros distúrbios emocionais sem ser exclusivo de nenhum deles, pode
significar uma síndrome traduzida por muitos e variáveis
sintomas somáticos ou ainda, pode significar uma doença,
caracterizada por alterações afetivas.
O público está certo ao estranhar a constante e
abusiva presença desta "tal Depressão" em quase tudo que diz
respeito aos transtornos emocionais, e os psiquiatras não estão menos
certos ao procurarem descobrir uma ponta de Depressão em quase tudo que lhes aparece pela
frente.
Do ponto de vista clínico, seria extremamente fácil e
cômodo se a Depressão fosse caracterizada, exclusivamente,
por um rebaixamento do humor com manifestação de tristeza, choro, abatimento
moral, desinteresse, e tudo aquilo que sabemos ter uma pessoa deprimida.
Fosse assim tão típico e característico, até o amigo
íntimo, o vizinho ou o dono da bar da esquina poderiam diagnosticá-la. A parte
trabalhosa da psiquiatria está no diagnóstico dos muitos casos de Depressão atípica, incaracterística
ou mascarada, bem como, perceber traços depressivos em outras patologias
emocionais, como por exemplo, nos casos de Pânico,
Fobia, etc.
A sintomatologia depressiva é muito variada e diferente
entre as diferentes pessoas. Para entender melhor essa diversidade de sintomas
depressivos, imagina-se que, entre as pessoas, a Depressão seria como uma bebedeira geral, onde
cada pessoa alcoolizada ficasse de um jeito; uns alegres, outros tristes,
irritados, engraçados, dorminhocos, libertinos.
O que todos teriam em comum seria o fato de estarem sob
efeito do álcool, estariam todos tontos, com os reflexos diminuídos, etc.
Mas a atitude geral em resposta ao alcoolismo, cada um estaria de um jeito, de
seu jeito. Diante da Depressão também;
cada personalidade se manifestará de uma maneira.
A psicopatologia recomenda como válida a existência de três sintomas depressivos
básicos, os quais dão origem a variadas manifestações de
sintomas. Essa tríade da Depressão seria:
1 -
Sofrimento Moral,
2 - Inibição
Global e,
3 -
Estreitamento Vivencial.
Compete à sensibilidade do observador, relacionar um
sentimento, um comportamento, um pensamento ou sentimento, como a expressão
individual de um desses três sintomas básicos, como sendo a expressão pessoal e
adequada da personalidade de cada um diante da Depressão.
De
acordo com o Dr. Dráuzio Varella, na Depressão, o existir é um fardo
insuportável. “A tristeza é tanta que acordo pela manhã e não encontro razão
para levantar; só saio da cama porque permanecer deitada pode ser pior”,
queixou-se uma senhora depois do terceiro episódio da doença. “Na depressão, a
vida fica por um triz”, observou ela.
Depressão é a tristeza quando não tem fim, quadro muito
diferente do entristecer passageiro ligado aos fatos da vida. É uma doença
potencialmente grave que interfere com o sono, com a vontade de comer, com a
vida sexual, com o trabalho, e que está associada a altos índices de
mortalidade por complicações clínicas ou suicídio.
É a mais comum de todas as enfermidades psiquiátricas,
acomete mais as mulheres e apresenta caráter recidivante: depois do primeiro
episódio, a probabilidade de ocorrer outro é de 50%; depois do segundo, sobe
para 75%; e, depois do terceiro, para pelo menos 90%.
Se é uma doença psiquiátrica, que alterações acontecem no
cérebro das pessoas deprimidas?
Há 40 anos a explicação mais aceita tem sido a de que no
cérebro dos deprimidos haveria diminuição da produção de certos
neurotransmissores (substâncias que agem na transmissão de sinais entre os
neurônios), entre os quais a serotonina provavelmente exerceria papel
preponderante.
A ideia de que baixos níveis de serotonina em certas
áreas do cérebro seriam a causa da depressão foi reforçada pela demonstração de
que o aparecimento de medicamentos capazes de aumentar as concentrações
cerebrais desse neurotransmissor (das quais as mais populares são a fluoxetina
e a sertralina) beneficiou grande número de pacientes.
Nos últimos dez anos, no entanto, a hipótese dos níveis
inadequados de serotonina passou a ser cada vez mais contestada. O principal
argumento contrário a ela foi o de que, embora concentrações diminuídas desse
neurotransmissor tenham sido detectadas no sistema nervoso central de vítimas
de tentativas violentas de suicídio, nunca foi possível demonstrar deficiência
de serotonina no cérebro de pacientes deprimidos.
Em edição especial, a revista “Science” traz
uma discussão sobre o conjunto de ideias mais aceito atualmente para explicar a
depressão: a hipótese do estresse.
Segundo essa hipótese, em resposta aos estímulos agressivos
do ambiente, o hipotálamo produz um hormônio (CRF) para convencer a hipófise a
mandar ordem para as suprarrenais produzirem cortisol e outros derivados da
cortisona.
Diversos trabalhos experimentais mostraram que esses
hormônios do estresse (CRF, cortisol e outros) prejudicam a saúde dos
neurônios, porque modificam a composição química do meio em que essas células
exercem suas funções. A persistência do estresse altera de tal forma a
arquitetura dos circuitos neuronais que chega a modificar a própria anatomia
cerebral. Por exemplo, provoca redução das dimensões do hipocampo, estrutura
envolvida na memória, e área fundamental para a ação das drogas
antidepressivas.
Pesquisadores da Universidade de Emery, em Atlanta,
demonstraram a existência de períodos críticos na infância em que sofrer
violência física, abuso sexual, ausência de cuidados maternos e outros tipos de
estresse emocional podem conduzir à hipersecreção de CFR no hipotálamo, com
consequente liberação de cortisol pelas suprarrenais, alterações associadas à
depressão na vida adulta. Os pesquisadores concluíram que “muitas das
alterações neurobioquímicas encontradas na depressão do adulto podem ser
explicadas pelo estresse ocorrido em fases precoces da infância”.
De fato, no estudo clínico conduzido em Atlanta, 45% dos
adultos com quadros depressivos de pelos menos dois anos de duração haviam sido
abusados, negligenciados ou sofrido perda dos pais na infância.
Outro achado importante para definir o papel dos
hormônios do estresse foi a demonstração recente de que a injeção de CRF
diretamente no cérebro de animais de laboratório induz o aparecimento de
quadros típicos de depressão e de distúrbios de ansiedade, sugerindo que
depressão e ansiedade tenham mecanismos comuns e possam ser induzidas por
fatores semelhantes. Talvez seja essa a justificativa para a maioria das
pessoas com depressão na vida adulta referir personalidade hiper-ansiosa na
infância e adolescência.
Neurocientistas proeminentes defendem a teoria de que o
mecanismo através do qual o estresse induziria depressão estaria ligado ao
hipocampo: os hormônios do estresse suprimiriam o nascimento de novos neurônios
nessa estrutura crucial para o processamento da memória. Tal suspeita ganhou
ímpeto especialmente depois da publicação, meses atrás, de uma descoberta
inesperada: depois de duas ou três semanas de tratamento com drogas
antidepressivas começam a nascer novos neurônios no hipocampo (neurogênese).
Esse achado explicaria também por que, apesar de os antidepressivos elevarem
imediatamente os níveis cerebrais de serotonina, sua ação benéfica só se
manifesta semanas mais tarde.
Existem fatores genéticos envolvidos nos casos de
depressão, doença que pode ser provocada por uma disfunção bioquímica do
cérebro. Entretanto, nem todas as pessoas com predisposição genética reagem do
mesmo modo diante de fatores que funcionam como gatilho para as crises:
acontecimentos traumáticos na infância, estresse físico e psicológico, algumas
doenças sistêmicas (ex: hipotireoidismo), consumo de drogas lícitas (ex:
álcool) e ilícitas (ex: cocaína), certos tipos de medicamentos (ex: as
anfetaminas).
Mulheres parecem ser mais vulneráveis aos estados
depressivos em virtude da oscilação hormonal a que estão expostas
principalmente no período fértil.
Continuando com os ensinamentos do Dr. Dráuzio Varella, a
seguir seguem os sintomas, diagnóstico, tratamento e recomendações relacionados
à Depressão:
Sintomas
Além do estado deprimido (sentir-se deprimido a maior
parte do tempo, quase todos os dias) e da anedonia (interesse e prazer
diminuídos para realizar a maioria das atividades) são sintomas da depressão:
1) alteração de peso (perda ou ganho de peso não
intencional);
2) distúrbio de sono (insônia ou sonolência excessiva
praticamente diárias);
3) problemas psicomotores (agitação ou apatia
psicomotora, quase todos os dias);
4) fadiga ou perda de energia constante;
5) culpa excessiva (sentimento permanente de culpa e
inutilidade);
6) dificuldade de concentração (habilidade diminuída para
pensar ou concentrar-se); 7) ideias suicidas (pensamentos recorrentes de
suicídio ou morte);
8) baixa autoestima,
9) alteração da libido.
Muitas vezes, no início, os sinais da enfermidade podem
não ser reconhecidos. No entanto, nunca devem ser desconsideradas possíveis
referências a ideias suicidas ou de autodestruição.
Diagnóstico
O diagnóstico da depressão é clínico e toma como base os
sintomas descritos e a história de vida do paciente. Além de espírito deprimido
e da perda de interesse e prazer para realizar a maioria das atividades durante
pelo menos duas semanas, a pessoa deve apresentar também de quatro a cinco dos
sintomas supracitados.
Como o estado depressivo pode ser um sintoma secundário a
várias doenças, sempre é importante estabelecer o diagnóstico diferencial.
Tratamento
Depressão é uma doença que exige acompanhamento médico
sistemático. Quadros leves costumam responder bem ao tratamento psicoterápico.
Nos outros mais graves e com reflexo negativo sobre a vida afetiva, familiar e
profissional e em sociedade, a indicação é o uso de antidepressivos com o
objetivo de tirar a pessoa da crise.
Existem vários grupos desses medicamentos que não causam
dependência. Apesar do tempo que levam para produzir efeito (por volta de duas
a quatro semanas) e das desvantagens de alguns efeitos colaterais que podem
ocorrer, a prescrição deve ser mantida, às vezes, por toda a vida, para evitar
recaídas. Há casos de depressão que exigem a associação de outras classes de
medicamentos – os ansiolíticos e os antipsicóticos, por exemplo – para obter o
efeito necessário.
Há evidências de que a atividade física associada aos
tratamentos farmacológicos e psicoterápicos representa um recurso importante
para reverter o quadro de depressão.
Recomendações
* Depressão é uma doença como qualquer outra. Não é sinal
de loucura, nem de preguiça nem de irresponsabilidade. Se você anda desanimado,
tristonho, e acha que a vida perdeu a graça, procure assistência médica. O
diagnóstico precoce é o melhor caminho para colocar a vida nos eixos outra vez;
* Depressão pode ocorrer em qualquer fase da vida: na
infância, adolescência, maturidade e velhice. Os sintomas podem variar conforme
o caso. Nas crianças, muitas vezes são erroneamente atribuídos a
características da personalidade e nos idosos, ao desgaste próprio dos anos
vividos;
* A família dos portadores de depressão precisa manter-se
informada sobre a doença, suas características, sintomas e riscos. É
importante que ela ofereça um ponto de referência para certos padrões, como a
importância da alimentação equilibrada, da higiene pessoal e da necessidade e
importância de interagir com outras pessoas. Afinal, trancafiar-se num quarto
às escuras, sem fazer nada nem falar com ninguém,está longe de ser um bom
caminho para superar a crise depressiva.
http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=53
http://drauziovarella.com.br/drauzio/estresse-e-depressao/
http://drauziovarella.com.br/letras/d/depressao/
http://www.psicosite.com.br/tra/hum/depressao.htm
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